O Contexto Histórico do Conflito Rússia-Ucrânia

 O Contexto Histórico do Conflito Rússia-Ucrânia


O conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que ganhou intensidade com a invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022, possui raízes profundas em fatores históricos, culturais, políticos e geopolíticos. Para entender as razões desse conflito, é necessário analisar os eventos históricos que moldaram as relações entre os dois países ao longo dos séculos.


Origens Históricas e o Período Soviético


As relações entre a Rússia e a Ucrânia remontam à Idade Média, quando ambos os povos formavam parte do antigo Estado de Kiev, também conhecido como Rus' de Kiev. Este Estado medieval, que existiu entre os séculos IX e XIII, é considerado um dos primeiros ancestrais das nações russas, ucranianas e bielorrussas. Após o colapso do Rus' de Kiev devido a invasões mongóis, a Ucrânia passou a ser dominada por vários impérios, incluindo o Império Polonês, o Império Otomano e, mais tarde, o Império Russo.


Em 1654, a Ucrânia se aliou ao Império Russo por meio do Tratado de Pereyáslav, embora muitas regiões ucranianas continuassem a lutar pela independência ou uma maior autonomia. Ao longo dos séculos seguintes, a Ucrânia foi gradualmente absorvida pelo Império Russo e, após a Revolução Russa de 1917, passou a fazer parte da União Soviética. Durante o período soviético, as tensões entre as identidades russas e ucranianas se intensificaram, especialmente devido à repressão de culturas e línguas nacionais, como no caso do Holodomor, uma grande fome forçada que ocorreu entre 1932 e 1933 e que resultou na morte de milhões de ucranianos.



A Dissolução da União Soviética e a Independência Ucraniana


Com o colapso da União Soviética em 1991, a Ucrânia se declarou independente, o que alterou profundamente a dinâmica entre os dois países. A independência ucraniana foi reconhecida por grande parte da comunidade internacional, mas a Rússia, ainda lidando com as repercussões da perda de grande parte de seu território, manteve uma visão de que a Ucrânia, por laços históricos e culturais, deveria manter uma relação de proximidade com Moscou.


Nos anos 1990 e 2000, a Ucrânia seguiu uma trajetória de integração gradual com o Ocidente, inclusive tentando se aproximar da União Europeia e da OTAN, o que gerou tensões com a Rússia, que via esses movimentos como uma ameaça à sua esfera de influência. Durante este período, a Ucrânia experimentou uma série de instabilidade política, incluindo a Revolução Laranja de 2004, que contestou uma eleição presidencial considerada fraudulenta e marcou a ascensão de forças pró-Ocidente no país.


O Euromaidan e a Crise de 2014


O momento crucial do conflito moderno começou em 2013, quando o então presidente ucraniano Viktor Yanukovych, de orientação pró-russa, decidiu abandonar um acordo de associação com a União Europeia em favor de laços mais estreitos com a Rússia. Esse movimento gerou protestos em massa em todo o país, conhecidos como o movimento Euromaidan, que exigiam a integração da Ucrânia com o Ocidente.


Em fevereiro de 2014, os protestos culminaram na destituição de Yanukovych, um evento que foi visto como uma revolução democrática e pró-Ocidente. Em resposta, a Rússia, sob a liderança de Vladimir Putin, reagiu com grande força. Em março de 2014, a Rússia anexou a Crimeia, uma península ucraniana estratégica no Mar Negro, e apoiou insurgentes separatistas nas regiões de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia, levando à eclosão de um conflito armado que perdura até hoje, mas com intensidades variáveis.


A Invasão de 2022 e a Guerra Atual


Apesar dos acordos de Minsk, que visavam a pacificação do leste da Ucrânia após 2014, as tensões não diminuíram. No início de 2022, a Rússia iniciou uma invasão em larga escala da Ucrânia, com o objetivo de "desnazificar" o país e impedir sua integração com o Ocidente. Esse movimento foi amplamente condenado pela comunidade internacional e resultou em sanções econômicas severas contra a Rússia, bem como em um apoio significativo à Ucrânia, especialmente do Ocidente, com fornecimento de armamentos, apoio humanitário e ajuda financeira.


A guerra gerou uma crise humanitária massiva, com milhares de mortos e milhões de deslocados. A Ucrânia, embora superada em termos militares, resistiu de forma notável, recebendo apoio militar e econômico de potências ocidentais como os Estados Unidos e os países da União Europeia. A Rússia, por outro lado, enfrenta uma série de dificuldades internas e internacionais devido às sanções e ao isolamento econômico, mas mantém sua postura agressiva em relação à Ucrânia.


O Contexto Geopolítico


O conflito também tem um forte componente geopolítico. A Rússia vê a Ucrânia como parte de sua esfera de influência natural e teme a expansão da OTAN para o leste. A Ucrânia, por sua vez, busca garantir sua independência e soberania, alinhando-se com as potências ocidentais para se proteger de uma possível dominação russa. A posição da Ucrânia se tornou ainda mais clara após 2014, quando o país começou a redefinir sua identidade como uma nação europeia, com uma ênfase crescente na construção de laços mais estreitos com a União Europeia e a OTAN.


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